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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O guarda-chuva


Quando inventaram o guarda-chuva, a chuva foi o que menos contou; só para você saber.

Eu sempre digo que guarda-chuvas não servem para livrar as pessoas da chuva. Têm inúmeras utilidades, sim, mas não a de guardar você de uma chuva - tempestade, ou de leve que seja. A mulher, por exemplo, que estava andando com seus tamancos de plataforma e seu sobretudo Tweed. Ela não estava com aquele guarda-chuva em punhos e passos confiantes por uma questão simples de querer fugir de um evento da natureza.

Veja bem, ao levar o objeto sobre si, ela se escondia não da chuva ou do vento. Era uma questão de auto-estima - ou a falta (e a recuperação) da mesma. Com o guarda-chuva à frente do rosto ninguém saberia que ela escondia a identidade de uma profissional fracassada, esposa traída ou, sei lá qual talvez fosse seu problema - ainda que eu tenha a certeza de que o problema existe. Portanto, tudo o que ela precisava era seguir a reta, muito bem armada. O guarda-chuva não a livrava da chuva... ah, não. Era muito mais que isso.

E quando cada louco - no mais puro sentido do vocábulo louco - se apega ao seu último recurso, - o mendigo e seu cão piolhento, o senhor com a sua bengala, a menina histérica ao celular, o jovem e seu relógio de pulso rolex - enquanto isso, os pingos de chuva não perdoavam a meia-calça daquela mulher. Qual o sentido, afinal, de tentar cobrir a cabeça? Uma das partes sempre fica de fora. E, mesmo assim, continuava a mulher e o seu guarda-chuva. Suas canelas eram a única prova de que guarda-chuvas são uma farsa.



Priscilla Acioly, escrito em 12/08/2010