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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Bocas


Uma vez, minha mãe disse, elas vão te pegar
Quem, eu perguntei
Bocas, respondeu.
Que bocas?
Várias, meu filho, você vai gostar
E você?
Não. Uma delas vai mordê-lo, você vai embora.
Ah, mamãe, desculpe
Claro, meu bem
O que posso fazer?
Nada.

Mãe
Uhn?
Estou indo
Boca?
Não, olhos.

Priscilla Acioly, 27/06/2011

domingo, 12 de junho de 2011

Papel



Sou um pedaço de papel
Papéis são leves... podem voar
Não quero. Não sou esse pedaço de papel leve

Mas vem, rasga-me
Rasga-me em infinitos pedaços e depois assopra
Faça riscos, me amassa, me marca, me recorta
Sou teu papel pardo, amargo... me joga
Em qualquer canto que eu cair, ali eu fico
Papel rasgado

Sou um pedaço de papel qualquer
Papel usado.
Você finge que não quer, mas continua usando motivos
me guarda no fundo da sua gaveta,
sou teu papel reciclado.
Ignora tudo o que eu sou
Pois não sou nobre
nem chego a ser carta de amor

Mas sou papel em suas mãos
porque você sabe como me dobrar.

Ai, Deus... esse papel de amar!

Priscilla Acioly, 30/09/09 

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Balde de Tinta


Fui lá fora e vi setecentas cores prontas para serem capturadas. Todas elas me olhavam esperando que eu agisse rápido e prontamente. As cores mais claras me convocavam delicadamente. As mais escuras diziam: O que está esperando, Maria? Andei apressada com o balde na mão. Imitei, imitei e imitei as cores ao meu redor. Aquarelas são simplesmente mágicas nesse momento. As cores frias me empurraram para um abismo tão imenso de idéias que eu me perguntei como o nada, o vazio... poderia conter tudo? Vi espelhos e seres disformes que pairavam sobre cores suaves. Observei bastante névoa ao meu redor, um clima bastante calmo e silencioso. Branco. Tão silencioso que chegava a ser pertubador para os meus ouvidos. O silêncio quase foi capaz de me deixar surda. Lá, fiquei submersa por tanto tempo que já não lembro quantas linhas, formas ou tons misturei no cavalete. Por outro lado, quando as cores quentes me capturaram, elas me trouxeram para um mundo totalmente invertido. Vi tudo e todos de ponta-cabeça. Havia barulho, rapidez e movimentos drasticamente vermelhos e excitantes. Uma violenta onda de todas as coisas mais histéricas que já vi!Tudo era externo, palpável, visível. Tudo que já tinha a essência, a emoção... agora ganhara vida.  E foi aí que realmente reconheci os espectros do meu mundo - mais conhecido como: obra de arte.
           

            Priscilla Acioly, 06/11/09