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sábado, 31 de março de 2012

Nu-Vem


A Nuvem não fala com estranhos,
mas molha a todos que estão sob ela.
Nu-Vem molhar o meu corpo
Vem nu também.

Priscilla Acioly, 
31/03/2012

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Cozinha


Acordei com o sol estalando em minha testa, encontrei um bilhete em cima da mesa de cabeceira.

Oi, meu amor. Nesse momento você está sabe-se lá Deus onde. Cheguei do trabalho e a cozinha estava de pernas pro ar. Sei que esse é o estado natural dela, mas quando digo de pernas pro ar, quero dizer que realmente estava uma puta de uma desordem. Não tem mais nada dentro da geladeira, toda comida estava misturada em uma massa fedorenta pelo chão, pela mesa, pelo balcão e paredes. Há tempos venho percebendo a sujeira que anda isso aqui, o meu esforço em, sozinho, levar o lixo para fora. Não ache que é uma decisão precipitada ou mal pensada. Fui embora.


Com amor,
João.




Priscilla Acioly
Escrito em 05/02/2012

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Sonhos



Nunca acreditou em sonhos
Porque teve a consciência de que jamais acordara.
Só quem acorda é que acredita em sonhos.

Priscilla Acioly

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Ponte

(Créditos da foto: Dênis Rubra)

O final da ponte, quebrado
O início da ponte, inexistente
De ponte só tinha o meio
E meio num tinha nada.

O caminho, de fato, não era ali de cima
Por isso a ponte não ligava os lados
O caminho era do barco
Passava por debaixo do meio da ponte
Este sim ligava... norte e sul do rio.

O barco era a ponte do rio.
A ponte era um barco sem remo.

Priscilla Acioly, 20/01/2012

sábado, 13 de agosto de 2011

A Caneca


Uma vez, apenas uma vez, ela segurou minha caneca.
Mas era como se tivesse segurado toda minha esperança de ficarmos juntos.


Priscilla Acioly, 13/08/2011

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Na rua de baixo



         Na rua de baixo, mora uma menina. Pouco mais de quinze anos, cabelos crespos e olhos carentes. Sempre que passo apressado com passos de vento, a menina me fita nos olhos e desacelera meus reflexos, ao passo que tudo fica em câmera lenta e meus passos de ventania se esvaem em compassos de pluma, de brisa. Ela me olha desde a casa amarela até eu fazer a pequena curva e ela me observa de tal modo que, mesmo de costas, sinto suas pupilas se dilatarem quando troco as últimas passadas para fazer a curva e desaparecer. Posso prever que quando saio do alcance de sua visão, ela continua ali por mais cinco ou quinze minutos olhando pro nada, ou olhando pro 'eu' que na mente dela ainda se recria passando e repassando por ali com cada movimento meticulosamente previsto até fazer a curva, ou - para ela - a maldita curva.

            Isso se dá todos os dias no mesmo horário. Passo pela menina, ela me fita e me estuda como se algo de surpreendente pudesse esperar acontecer com o novo dia. Da mesma maneira que um dia tempestuoso e trevoso precede um dia de sol e calor, da mesma forma que a lua cheia pedante renuncia e dá lugar à lua nova, ou do mesmo modo que uma criança alegre é capaz de converter riso em choro por causa de um pequeno descuido. E eu não ouso a reciprocidade. Tenho a impressão de que se eu a fitar nos olhos também, se eu a explorar com a mesma intensidade que ela me explora, eu nunca mais serei o mesmo. Tenho medo disso. Porque a tal menina nunca mais foi a mesma depois que nos beijamos debaixo duma pequena árvore. E é por isso que todos os dias, incansavelmente, eu ainda tento fazer a curva. 


Priscilla Acioly 11/08/2009 


domingo, 17 de julho de 2011

Apenas gotas


Seu suor escorre
Como o orvalho à noite
Suor que engole
E pingo a pingo contorna o seu corpo
Ainda que de forma desagradável, seu rosto.
Mas não me importo
Porque de manhã seca-se o orvalho.
E à tarde seu corpo espelha-se nas gostas da piscina.
De forma visível, porém insípida!
Ah, se eu fosse gotas!

Priscilla Acioly, 27/06/2007